É possível que a IA generativa nos substitua nos treinamentos e outras ações de desenvolvimento humano nas organizações?
Nos últimos meses, diferentes relatórios/pesquisas têm apontado para uma mudança significativa na forma como usamos a inteligência artificial generativa.
Se antes ela era vista como uma ferramenta voltada exclusivamente à produtividade (produzindo textos, otimizando tarefas ou acelerando processos), ultimamente ela começa a ocupar um lugar mais íntimo e subjetivo no cotidiano das pessoas.
Alguns exemplos do que tem saído de notícia e que mostra essa realidade:
- Em entrevista com pesquisadores de saúde mental, participantes descreveram os chatbots como um verdadeiro "santuário emocional", um espaço acolhedor em que conseguiram expressar emoções e receber orientações úteis, inclusive relatos de impacto significativo em momentos difíceis
- Pesquisas recentes também apontam que mais da metade dos jovens americanos entre 18 e 29 anos se sentem confortáveis falando com IA sobre saúde mental, e alguns relatam preferi-la como fonte de apoio emocional
Há poucos meses, dizíamos que ainda era cedo para entender como, de fato, iríamos conviver com a IA no nosso cotidiano.
Agora, ela entrega além de respostas e rapidez, acolhimento emocional, e isso sendo visto pelas pessoas como algo de muitíssimo valor.
Essa situação nos leva a uma pergunta inevitável: se a IA começa a ocupar esse espaço de escuta, suporte emocional que são, em grande parte, pilares do trabalho que realizamos no desenvolvimento humano, será que ela também pode nos substituir? Onde ficamos nessa história?
Sabemos que desenvolver pessoas é mais do que transmitir conteúdo em treinamentos, é trabalhar com emoções reais, dar visibilidade ao universo subjetivo de cada indivíduo e construir, a partir daí, relações mais humanas, conscientes e potentes nas organizações, mas se até esse campo está sendo influenciado pela IA, o que isso diz sobre o nosso papel daqui para frente?
Desde o ano passado, temos iniciado uma jornada com a inteligência artificial que está mudando a forma como desenhamos e entregamos nossas soluções de desenvolvimento humano e organizacional.
Esse movimento nasce do nosso desejo de sermos referência no uso consciente e estratégico da IA, sempre a serviço das pessoas, das lideranças e das organizações em seus processos de transformação cultural.
Temos testado o uso da inteligência artificial de forma prática e intencional. Em várias frentes, ela já nos apoia.
Fazemos isso porque acreditamos que algumas dimensões do desenvolvimento humano funcionam como “algoritmos”, e isso pode ser visto em como temos explorado a IA em nossos processos de mentoria.
Explico: alimentamos plataformas com dúvidas recorrentes, perguntas-chave, conteúdos estruturados, e ela nos ajuda a criar uma base de apoio que é oferecida às pessoas que passam pelas jornadas que oferecemos.
Por isso disse anteriormente que em alguma dimensão do desenvolvimento humano existe um “algoritmo”, existe um certo padrão. Há perguntas que se repetem e dúvidas que são comuns. Se alimentarmos uma IA com milhares de exemplos reais, ela pode oferecer suporte a líderes, especialmente em programas de desenvolvimento e transformação, respondendo de forma tecnicamente correta e muito útil.
Isso porque a IA não tem consciência, mas tem altíssima capacidade de processamento e reprodução do que já foi feito por humanos.
Nesse sentido, sim, a IA pode reproduzir padrões com muita qualidade.
Pode simular uma boa conversa, oferecer uma devolutiva consistente, sugerir caminhos para uma abordagem com um colaborador, apontar uma resposta a um líder para dar ao seu mentorado…
Mas quando a gente olha para um lugar mais profundo, falando de transformação cultural, de mudança real nas organizações, de líderes que precisam enxergar com clareza o que estão buscando, gerar alinhamento e engajamento nos seus times, delegar isso para uma IA toca um limite importante.
Por isso, talvez a pergunta mais relevante não seja: “Ela pode nos substituir?”
A pergunta mais honesta é: faz sentido que ela nos substitua nesse lugar?
O que estamos, de fato, entregando quando deixamos que esse papel conscientemente (o de provocar transformação, criar conexão e mover pessoas) seja feito apenas por uma máquina?
No contexto organizacional, temos observado que as pessoas não estão carentes de informação.
Elas estão cansadas, saturadas de conteúdos, ferramentas e inputs que só aumentam a sensação de sobrecarga.
O que elas buscam e precisam é de encontro real, espaço para escuta, troca de experiências, vivência com outros seres humanos.
CONVERSAS.
E é exatamente aqui que a IA encontra seu limite.
Ela não vai conseguir ler contexto para mostrar uma mudança que precisa ser feita, não vai compartilhar vulnerabilidades, apontar tensões no time e, principalmente, não trará provocações - e quando falamos de desenvolvimento humano, não há transformação sem desconforto, sem atrito, sem diversidade de opiniões.
A zona de conforto que a IA oferece pode ser útil em muitas camadas, mas não é nesse lugar que as pessoas se desenvolvem.
Neste ano, criamos a Anaí, a nossa inteligência artificial desenvolvida para expandir o impacto dos nossos projetos. E não, ela não substitui o que fazemos. Ela não lê o contexto, não cria vínculo, não faz intervenções. Quem faz isso somos nós, com nosso método, presença, com as ferramentas que desenvolvemos ao longo dos anos.
A Anaí entra depois. Ela estende o efeito do que já foi vivido.
A transformação acontece nas interações humanas, e essa IA ajuda a manter esse movimento vivo no tempo.
Ela está aqui para facilitar, para ser uma presença inteligente, acessível e integrada ao cotidiano de quem participa das nossas jornadas.
Usamos e acreditamos na tecnologia para que a transformação ali vivida em um momento específico, continue acontecendo. Converse com o nosso time comercial e entenda como a inteligência artificial pode ser uma aliada para ampliar o impacto do desenvolvimento de pessoas na sua organização.
Por isso, a resposta à pergunta que dá título a este artigo não é um simples “sim” ou “não”.
A IA tem espaço. Muito espaço.
Pode gerar valor, apoiar entregas, potencializar processos, mas há uma dimensão do desenvolvimento humano que ela não alcança: o compartilhamento real entre pessoas reais.
E é exatamente essa camada que escolhemos habitar.